País foi uma das principais alavancas de crescimento da multinacional em 2023, que vê potencial para entrar em mais categorias, inclusive drinks prontos para beber, diz o CEO para América Latina, Bruno Pietracci
Um dos principais mercados da Coca-Cola em 2023, o Brasil vai receber mais investimentos neste ano para modernizar e expandir a estrutura fabril e a malha logística, além de intensificar a relação com o pequeno e médio varejo, com reforço na estrutura de vendas, como geladeiras e material promocional.
A empresa vai investir R$ 4 bilhões no país, o que inclui todo o Sistema Coca- Cola, como é chamada a rede de empresas engarrafadoras e distribuidoras dos produtos do grupo, como a Coca-Cola Femsa, a Andina e a Solar.
O montante é R$ 1 bilhão maior do que a média de investimento anual dos últimos dois anos e vai ajudar a companhia a expandir seu portfólio no país.
Com mais de 1 milhão de pontos de vendas no Brasil, o aporte bilionário reforça a aposta da Coca-Cola no país, diz Bruno Pietracci, CEO da empresa para a América Latina, em entrevista exclusiva ao INSIGHT. O Brasil é o quarto maior mercado da empresa em todo o mundo e, ao lado do México, o líder na América Latina, onde o objetivo é dobrar o crescimento — em 2023, a região, que engloba 39 mercados e mais de 500 milhões de consumidores, cresceu 4% em volume vendido.
Em todo o ano passado, o volume global da empresa cresceu 2%, segundo balanço publicado na terça-feira, 13. A empresa não abre os dados exatos por país, mas os mercados emergentes, o que inclui países como Brasil e Índia, foram os grandes responsáveis pelo crescimento. Nos mercados desenvolvidos, o avanço do volume foi de 1%. O lucro da companhia ficou 12% maior do que em 2022, chegando a US$ 11 bilhões.
Natural do Rio de Janeiro, Petracci está na multinacional desde 2008 e mais recentemente liderava os negócios da empresa no continente africano. Sua chegada em fevereiro de 2023 ao comando da operação na América Latina reforçou a importância do mercado brasileiro.
Antes dele, a cadeira era ocupada pelo também brasileiro Henrique Braun, que se tornou presidente de desenvolvimento Internacional – um cargo que olha para todas as operações da Coca-Cola e responde diretamente a James Quincey, CEO da companhia. “É como uma corrida de revezamento. Meus antecessores trouxeram o bastão até aqui e agora pretendo levar mais à frente”, afirma.
Aumentando o portfólio
No país, onde também tem uma joint venture do Chás Leão, é acionista do energético Monster, e dona da água Crystal, a empresa tem como seu carro-chefe a tradicional Coca-Cola e sua versão sem açúcar. Mas a multinacional tem apostado em novos produtos e ganhado cada vez mais espaço em categorias que antes não faziam parte do negócio, como a de drinks prontos para beber.
“Antes éramos uma empresa de refrigerantes, hoje somos uma empresa de bebidas. Em cinco anos é difícil prever para onde vai evoluir o desejo do consumidor, mas queremos ser relevantes em todas as ocasiões de consumo.”
No último ano, trouxe para o Brasil a Jack & Coke, que reproduz a receita clássica de misturar o famoso refrigerante com o uísque Jack Daniel’s. E até no Carnaval a empresa fez apostas na categoria dos alcoólicos: lançou pela marca Schweppes duas versões de gin tônica em lata.
“A gente está sempre tentando melhorar o sabor e estar conectado com as tendências do consumidor. Somos uma empresa de mais de 130 anos, mas somos jovens e voltados para os jovens”, diz Pietracci, destacando também o investimento em marketing digital, que tem sido o principal canal de comunicação com as gerações mais novas e seus hábitos de consumo.
Ao navegar em mares ainda pouco conhecidos, a gigante Coca-Cola faz um movimento para não perder a oportunidade de entrar num mercado ainda novo, mas que não para de crescer (as vendas de ‘ready to drink’ dobraram de tamanho só de 2020 até 2022) – e no qual a grande concorrência também mira.
No Brasil, por exemplo, a Ambev, dona do Guaraná Antarctica, criou há cerca de três anos a Beyond Beer, uma unidade de negócio, comandada pela ex-Pepsico Daniella Cachich para ser a casa das bebidas que, como diz o nome, vão além da cerveja.
“O refrigerante continua crescendo e ainda tem uma oportunidade enorme. Mas não entramos em nada que achamos que vai ser pequeno no futuro”, argumenta o executivo.
Além disso, as novas categorias tiram a gigante da zona de conforto e trazem boas lições. “Elas nos ensinam a pensar e atuar de uma forma diferente, porque aprendemos como ser mais criativos com menos orçamento e como lidar com uma posição menos confortável de market share, por exemplo. Podemos não ser os primeiros, mas temos que ser os melhores. Quando começamos temos que ser superiores em sabor e embalagem.”
Para crescer nessas novas categorias a companhia tem apostado especialmente na criação de produtos próprios, mas também considera oportunidades de aquisições. “Não sai do mesmo bolso que esses R$ 4 bilhões de investimento, mas é algo que sempre olhamos atentamente.”
Ao ampliar a estrutura física, logística e de mercado, a Coca-Cola também quer ficar mais próxima de alcançar suas metas de sustentabilidade, como a de chegar a 100% de coleta e reciclagem das embalagens comercializadas até 2030 e impulsionar o empreendedorismo. “Não tem um valor específico para ESG, porque, no final, os critérios não estão separados. Tudo que fazemos tem que ser para um crescimento sustentável.”
Matéria de Raquel Brandão – Repórter Exame IN na Exame.
Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado